Um grupo de nove detentas da ala LGBT da Penitenciária de São Joaquim de Bicas I (Professor Jason Soares Albergaria), na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), concluiu neste mês de outubro um curso de produção e criação de peças em crochê, trabalho que requer concentração, paciência e criatividade.
As aulas foram realizadas durante uma espécie de ‘intensivão’, com duração de dois meses, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h. Neste período, houve tempo de aprender as mais diferentes técnicas e ainda produzir peças para presentear parentes e também para vender, o que trouxe uma ajuda para renda das famílias das detentas.
A responsável por multiplicar as técnicas foi a detenta transexual Maria Vitória, 27 anos, que aprendeu a arte de crochetar em uma oficina promovida pelo Conselho da Comunidade da Comarca de Igarapé, no segundo semestre do ano passado. A oficina é parte do projeto “Maxi Crochê”.
Transformação
Para a diretora de Atendimento da penitenciária, Cristiane Leite Rodrigues, policial penal formada em Psicologia, o aprendizado permitiu às participantes descobrir “ter capacidade de construir algo belo, muito diferente do crime, da prostituição e das drogas”.
Cristiane começou a trabalhar na unidade prisional no início do período de isolamento social e identificou, a partir de várias escutas de presas, a necessidade de usar a arte como um recurso terapêutico. “Sempre acreditei nas possibilidades das diferentes manifestações artísticas, e tínhamos uma pessoa preparada para ensinar”, explica.
Nas aulas, as presas LGBT fizeram tapetes, bolsas, toalhas e cachepôs — peça feita de diferentes materiais para colocar vasos de plantas. A qualidade do trabalho, inclusive, motivou uma encomenda de 1,2 mil destes cachepôs pela Comarca de Igarapé que, em parceria com o Conselho da Comunidade, forneceu as agulhas e linhas, tanto para as aulas quanto para esse pedido.
Renascer
Maria Vitória se destacou no curso dado por uma professora de crochê no ano passado e, por isso, se tornou uma multiplicadora. Ela diz nunca ter manuseado uma agulha antes das aulas, além de jamais ter imaginado que um dia iria ensinar. A presa, que tinha crises de depressão e ansiedade, conta que fazer crochê tem ajudado bastante a lidar com o sofrimento. “O crochê representa a possibilidade de ter uma renda, principalmente pelas dificuldades que vou ter ao sair daqui”, afirma.
Fonte: Agência Minas